Mais uma vez Batata se encontrou com os internos da Comunidade Terapêutica de Dependentes Químicos. Como de costume, a atividade era de adestramento e Batata ficou a postos para receber as guloseimas que servem como reforço positivo.
Um senhor de certa idade ficou incumbido de adestrar a cão-terapêuta... Recebeu os petiscos, o clicker e partiu em direção de sua tarefa.
Provavelmente, sentindo o cheiro dos petiscos, Batata se sentou e se aproximou desse senhor que foi logo afagando a cabeça e o corpo dela (o que já era meio caminho andado para conseguir qualquer coisa dessa cachorrinha).
O método do clicker é um pouco lúdico... deixa-se o animal à vontade e quando ele se aproxima daquilo que você quer, simplesmente aperta-se o clicker, oferece-se o petisco e clica-se conforme o movimento vai progredindo.
Tudo ia bem até que o senhor falou com a Batata: - "Senta Batata!".
A voz do homem parecia um trovão de tão grave e rouca que era, e como esse senhor era um pouco lerdo para clicar na hora certa, ele tentou o método mais tradicional: dar voz de comando e induzir o movimento.
O problema é que na hora que aquele "vozerão" disse "Batata", Batata olhou para mim assustada como se perguntasse: - "Por Deus! O que eu fiz de errado dessa vez???"... enfiou o toco de rabinho entre as pernas e se curvou com os olhos abaixados para o Barítono.
Quanto mais ele chamava pela cadela, mais ela se afastava... nem o petisco parecia agradar mais. A solução foi dizer para o senhor não abrir mais a boca e tentar adestrar a Batata só no clicker. Infelizmente a Batata grudou no meu pé e não quis mais sair até passar o susto.
Outra coisa é que o dono faz coro com o lutador Anderson Silva e o apresentador Danilo Gentili e só engrossa a voz para dar bronca mesmo.
Esse blog se destina a relatar as experiências vividas pela "Batata" uma cadela da raça poodle que trabalha como cão co-terapêuta pela ATEAC (Instituto para Atividades, Terapias e Educação Assistida por Animais de Campinas).
sexta-feira, 27 de abril de 2012
terça-feira, 24 de abril de 2012
Amor de cão
Cachorro são especiais quando pensamos em sentimento e precisamos aprender muito com eles. Não digo que devemos ser como um "cachorrinho" para a pessoa amada, mas tolerância, compreensão e respeito são coisas que os caninos estão a alguns anos luz à nossa frente.
Cães não conseguem dizer "eu te amo", mas expressam isso muito melhor que um papagaio e é isso que quero dizer. Palavras importam pouco e atitudes no cotidiano falam mais alto. Frases ditas pela nossa boca já cairam na banalidade tantas foram as mentiras que sairam dela.
Companheirismo... isso também é algo precioso. Muitas vezes estamos com problemas que não estamos a fim de desabafar, mas a simples companhia ao lado já conforta, o convite para dar uma volta a pé ou de carro seja bem-vinda, mesmo sendo silenciosa e melancólica.
Respeito... bom, cães são regidos por hierarquias sociais e muitas vezes nos obedecem por estarmos num patamar superior, mas de qualquer forma eles gostam de nós pelo que fazemos por eles e dão pouca importância com o que fazemos fora de casa, isso não quer de dizer que não tenham curiosidade de saber, pois se você brincar com outro cão o focinho funcionará melhor que um aspirador de pó, porém colocam na nossa responsabilidade qualquer ação imprópria que se faça longe dos olhos.
Discussões não duram mais que alguns segundos, afinal o cão não retruca, simplesmente se afasta para depois se aproximar quando tudo tiver mais calmo com um sorriso nos lábios.
Cada um vive sua vida e quando precisar estaremos a postos para construirmos algo juntos. Isso parece ponto comum com todos os cães, só não devemos esquecer da alimentação, higiene e saúde.
Temos nossas responsabilidades... mas devemos nos relacionar como crianças e isso já foi dito há muito tempo como sendo o reino dos céus.
Por fim, qualquer ato de violência ou de raiva somente deve ser liberado quando houver risco de integridade física própria ou das pessoas queridas. Aí sim, as palavras faltam aos cães... se bem que a educação vem de família... Não é, Batata?
Cães não conseguem dizer "eu te amo", mas expressam isso muito melhor que um papagaio e é isso que quero dizer. Palavras importam pouco e atitudes no cotidiano falam mais alto. Frases ditas pela nossa boca já cairam na banalidade tantas foram as mentiras que sairam dela.
Companheirismo... isso também é algo precioso. Muitas vezes estamos com problemas que não estamos a fim de desabafar, mas a simples companhia ao lado já conforta, o convite para dar uma volta a pé ou de carro seja bem-vinda, mesmo sendo silenciosa e melancólica.
Respeito... bom, cães são regidos por hierarquias sociais e muitas vezes nos obedecem por estarmos num patamar superior, mas de qualquer forma eles gostam de nós pelo que fazemos por eles e dão pouca importância com o que fazemos fora de casa, isso não quer de dizer que não tenham curiosidade de saber, pois se você brincar com outro cão o focinho funcionará melhor que um aspirador de pó, porém colocam na nossa responsabilidade qualquer ação imprópria que se faça longe dos olhos.
Discussões não duram mais que alguns segundos, afinal o cão não retruca, simplesmente se afasta para depois se aproximar quando tudo tiver mais calmo com um sorriso nos lábios.
Cada um vive sua vida e quando precisar estaremos a postos para construirmos algo juntos. Isso parece ponto comum com todos os cães, só não devemos esquecer da alimentação, higiene e saúde.
Temos nossas responsabilidades... mas devemos nos relacionar como crianças e isso já foi dito há muito tempo como sendo o reino dos céus.
Por fim, qualquer ato de violência ou de raiva somente deve ser liberado quando houver risco de integridade física própria ou das pessoas queridas. Aí sim, as palavras faltam aos cães... se bem que a educação vem de família... Não é, Batata?
quinta-feira, 19 de abril de 2012
Pais e Filhos
"Homem é tudo igual!" essas frases feitas que infestam a internet, principalmente em redes sociais, infelizmente nunca vão traduzir a essência do ser humano. Afinal somos todos diferentes e essa diferença que faz com que cada ser seja especial.
Essa diferença foi notada nitidamente num atendimento. Normalmente, são as mães que cuidam dos filhos nos hospitais, neste dia em particular, eram dois pais que zelavam pelos filhos em seus leitos.
As mães sempre reagem da mesma forma: são alegres e demonstram a satisfação da visita pedindo para os filhos interagirem com os cães. Com os pais (homens) houve nítida diferença...
O pai de Nathalie (*), uma menina delicada que sofreu uma cirurgia na região do crânio, recebeu-nos com piadas: "...a Batata é frita ou é assada?... a Tequila (outra cão-terapêuta) não veio? Puxa e eu pensei que que iria tomar uns "drinks"?..." Usava o humor para combater o tédio, frustração e como fuga para o sofrimento da filha.
Já o pai de Marcelo (*), garoto que sofreu uma cirurgia de apendicite, não disse uma palavra, ficou fazendo palavras cruzadas e mal dirigiu o olhar para nós. Apenas se moveu para reclamar com a enfermeira sobre informações desencontradas sobre o horário da administração do remédio.
Claro que ambos se preocupavam pela saúde e bem-estar de seus filhos, senão não estariam ali em pleno horário de trabalho, mas homens são difíceis mesmo na hora de demonstrar sentimento e afetividade. No entanto, devo dizer que o pai da menina conseguia transmitir mais calor humano e, certamente é uma companhia mais saudável para se manter ao lado numa situação dessas.
Filhas fazem pais mais amorosos? Também pode ser uma questão... sou pai de um menino e sei que sou mais duro com ele do que com seus amigos.
Só sei que a Batata percebeu quem mais precisava de assistência e se aconchegou mais pertinho do garoto.
Essa diferença foi notada nitidamente num atendimento. Normalmente, são as mães que cuidam dos filhos nos hospitais, neste dia em particular, eram dois pais que zelavam pelos filhos em seus leitos.
As mães sempre reagem da mesma forma: são alegres e demonstram a satisfação da visita pedindo para os filhos interagirem com os cães. Com os pais (homens) houve nítida diferença...
O pai de Nathalie (*), uma menina delicada que sofreu uma cirurgia na região do crânio, recebeu-nos com piadas: "...a Batata é frita ou é assada?... a Tequila (outra cão-terapêuta) não veio? Puxa e eu pensei que que iria tomar uns "drinks"?..." Usava o humor para combater o tédio, frustração e como fuga para o sofrimento da filha.
Já o pai de Marcelo (*), garoto que sofreu uma cirurgia de apendicite, não disse uma palavra, ficou fazendo palavras cruzadas e mal dirigiu o olhar para nós. Apenas se moveu para reclamar com a enfermeira sobre informações desencontradas sobre o horário da administração do remédio.
Claro que ambos se preocupavam pela saúde e bem-estar de seus filhos, senão não estariam ali em pleno horário de trabalho, mas homens são difíceis mesmo na hora de demonstrar sentimento e afetividade. No entanto, devo dizer que o pai da menina conseguia transmitir mais calor humano e, certamente é uma companhia mais saudável para se manter ao lado numa situação dessas.
Filhas fazem pais mais amorosos? Também pode ser uma questão... sou pai de um menino e sei que sou mais duro com ele do que com seus amigos.
Só sei que a Batata percebeu quem mais precisava de assistência e se aconchegou mais pertinho do garoto.
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Coisinha à toa
Como lidar com um filho nosso completamente imóvel e sem responder a nenhum estímulo? Me deparei com um caso assim no hospital ontem. A criança sofreu uma lesão cerebral, não sei dizer a causa e somos instruídos a não perguntar para os parentes sobre o que aconteceu, mas era certo que parecia apenas estar dormindo constantemente.
Logo que chegamos no quarto, essa mesma mãe, se encantou com o trabalho e olhou cada atendimento da Batata com os outros pacientes (uma menina que sofreu fratura e cirurgia no pé direito e outra que sofreu cirurgia craniana e se recuperava bem). Ao chegar no leito de sua filha ela prontamente ajeitou um lugarzinho para colocar a Batata. Enquanto eu agradava a Batata para ela se sentir tranquila a mãe também começou a afagar o corpo da cão-terapêuta. Batata se sentiu tranquila com isso e se deitou ao lado da menina, coloquei então, a mão da menina no pescoço da Batata que aceitou calmamente. Vendo isso os olhos da mãe marejaram e ela falava para a filha sobre os cães que estavam em casa e estavam à espera dela.
Realmente, o que a Batata fez, não merece nenhum prêmio de inteligência ou heroísmo, simplesmente se deitou do lado da paciente e se deixou afagar, coisa à toa, mas a emoção com que essa mãe agradeceu e se despediu não deixam dúvidas que a Batata trouxe algo mais do que os pêlos do corpo... talvez, um pouco mais de esperança...
Logo que chegamos no quarto, essa mesma mãe, se encantou com o trabalho e olhou cada atendimento da Batata com os outros pacientes (uma menina que sofreu fratura e cirurgia no pé direito e outra que sofreu cirurgia craniana e se recuperava bem). Ao chegar no leito de sua filha ela prontamente ajeitou um lugarzinho para colocar a Batata. Enquanto eu agradava a Batata para ela se sentir tranquila a mãe também começou a afagar o corpo da cão-terapêuta. Batata se sentiu tranquila com isso e se deitou ao lado da menina, coloquei então, a mão da menina no pescoço da Batata que aceitou calmamente. Vendo isso os olhos da mãe marejaram e ela falava para a filha sobre os cães que estavam em casa e estavam à espera dela.
Realmente, o que a Batata fez, não merece nenhum prêmio de inteligência ou heroísmo, simplesmente se deitou do lado da paciente e se deixou afagar, coisa à toa, mas a emoção com que essa mãe agradeceu e se despediu não deixam dúvidas que a Batata trouxe algo mais do que os pêlos do corpo... talvez, um pouco mais de esperança...
Dependentes Químicos
Ontem Batata teve jornada dupla de trabalho: Hospital e Clínica de Dependentes Químicos. Primeira vez que ela teve contato com os chamados adictos.
Tímida na chegada Batata ficou receosa com os internos, mas ao ser afagada se entregou por completo se deixando pegar no colo e atendendo quando chamada.
O atendimento na Comunidade Terapêutica se faz da seguinte forma: os cães e voluntários são distribuídos aos internos e o trio trabalha com adestramento do cão. São usados clickers (aparelho que ao ser apertado emite um som semelhante ao de amassar levemente uma lata) que são o método de adestramento mais rápido atualmente. O adestramento do cão ensina o dependente químico a dar limites ao animal, em consequência, este adquiri mais instrumentos para lidar com sua própria dificuldade em limitar a sua impulsividade.
Infelizmente... Batata não foi um primor como aluna dando trabalho para aprender até comandos básicos, mas como era a menorzinha dos cães cativou a todos pela simpatia.
As pessoas internadas na comunidade, num certo período de sua vida, destruiram vidas e geraram infelicidade por onde ficaram. Me alegra ver que a Batata ajuda uma delas a construir algo e produzir sorrisos.
Tímida na chegada Batata ficou receosa com os internos, mas ao ser afagada se entregou por completo se deixando pegar no colo e atendendo quando chamada.
O atendimento na Comunidade Terapêutica se faz da seguinte forma: os cães e voluntários são distribuídos aos internos e o trio trabalha com adestramento do cão. São usados clickers (aparelho que ao ser apertado emite um som semelhante ao de amassar levemente uma lata) que são o método de adestramento mais rápido atualmente. O adestramento do cão ensina o dependente químico a dar limites ao animal, em consequência, este adquiri mais instrumentos para lidar com sua própria dificuldade em limitar a sua impulsividade.
Infelizmente... Batata não foi um primor como aluna dando trabalho para aprender até comandos básicos, mas como era a menorzinha dos cães cativou a todos pela simpatia.
As pessoas internadas na comunidade, num certo período de sua vida, destruiram vidas e geraram infelicidade por onde ficaram. Me alegra ver que a Batata ajuda uma delas a construir algo e produzir sorrisos.
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